Sábado, 16 de Abril de 2011

Sair, fugindo, rápido, apesar de ao ritmo normal, com uma mochila. Lá dentro, um Beckett, um Cioran, um Cesariny e, caso me dê para as coisas mundanas, um Ferguson. À volta, um moleskine, sempre comigo – é fiel. E um estojo, também sempre comigo. Gosto desta fidelidade que julgo que as coisas me têm, quando a verdade é que sou eu quem lhes é fiel. Vamos embora, então.



# Tiago Moreira Ramalho às 14:48 | | comentar

A animalidade social que nos está entranhada na pele, na carne, nos ossos obriga-nos a pensar que só estamos bem acompanhados. A solidão é, nas nossas mentes socialmente animais, pecado. E por isso fugimos do silêncio solitário, grande castigador, sempre que podemos. Até que, depois, sentimos que fomos longe de mais. Olhamos à volta e não vemos ponta de solidão e passamos a querê-la. Corremos para um canto escuro, que os outros não vejam, para que nos não falem, para que nos não perguntem, para que finjam, como nós queremos, que não existimos. Sinto falta da solidão, daquela fundamental, retirada do mundo, sem ruído e sem alheio. Ou se calhar apenas sinto falta de mim, que me não oiço nem me atento quando tenho gente mais interessante à minha volta com que me preocupar. Ou então, não sei.



# Tiago Moreira Ramalho às 13:42 | | comentar

Segunda-feira, 11 de Abril de 2011

Vivo dias estranhos. São quase melancólicos, roçando mesmo o infeliz. Leio Beckett e aquele humor que nos dá um sorriso mau, não sei explicar. Não é o sorriso bom da felicidade, é um sorriso perverso. Seguramente fruto do arranjo estético, mas mais fruto do que lhe subjaz. Não se explica, lê-se. E depois oiço Piazzolla e acabou de passar por mim um senhor fardado que, no destino a que se propôs, estacou e vislumbrou o que o rodeava. Estava tudo bem, se calhar. Ou se calhar não e saiu só para ir buscar reforços. E depois sinto-me um miserável. Hoje dei por mim a pensar que nunca li os óbvios, quanto mais os menos óbvios. Nunca li Kundera, nem Tolstói, nem Dostoievsky, nem Flaubert, nem o Eliot, nem a Eliot, nem o Dickens, nem o Twain, nem o Cervantes, nem o Hardy, nem o Miller, nem a Woolf, nem as Brönte. E não tenho tempo, palermas que dizem que tenho tempo. O tempo não se tem, não se pode possui-lo, o tempo existe e nós ou o usamos ou nos desgraçamos. Não há apelo. Não tenho tempo, não peço tempo, não dou tempo. Só uso o que existe, bem comum, se calhar, como o ar, quem sabe. Não tenho tempo. E os patinhos da Gulbenkian continuam os mais bonitos, os esquilos de Lisboa, estou aqui ao pé deles a trocar mimos felizes, bicadas gostosas, talvez fosse melhor não, não sabemos onde andaram, mas que se dane. Os que ainda são bebés parecem peludos. Aves com pêlo, gargalhemos. Se calhar agora nascem com pulmões. E os jardins da Gulbenkian continuam a ser de todos os mais bonitos. Estou no meio de um caos urbano sem sentir qualquer caos urbano. Refugiei-me numa espécie de meio isolado, primeiro com o livro, depois com o computador, a seguir não sei, talvez sem nada, só a dormir acordado à espera que o tempo que não é meu passe por mim sem que nunca se me entregue. O tempo só se dá a quem o merece. E só esses sentem que o tempo mereceu a pena. Todos os outros acabam condenados ao absurdo. Era como se o ar só se desse a respirar a alguns privilegiados. O mundo não é justo, aprendamos.



# Tiago Moreira Ramalho às 12:03 | | comentar

Sábado, 9 de Abril de 2011

 

 

 

 

 



# Tiago Moreira Ramalho às 11:37 | | comentar

Já não sei escrever sobre o que quero escrever. Não consigo. Começo e depois sinto que a masturbação é inútil. Não ajuda, nunca ajudou, a nada. Prefiro mil vezes o banal, a divagação que me faz correr, fugindo de tudo. Prefiro o agrafador vermelho com um, dois, três, quatro, cinco, seis, sete, oito, nove, dez, onze, doze, treze, estou farto, catorze, quinze, dezasseis, dezassete, roço o doentio, dezoito, dezanove, vinte, muitos, desisto; prefiro o lápis que não uso, não gosto de lápis, só de lapiseira, não sei porquê; prefiro o bloco de notas que arrasto sempre, porque posso sempre ter uma recaída, precisar de tomar qualquer coisa, remédios são as coisas que nos curam; prefiro o livro que não acabei porque desisti de o acabar porque desisto quase sempre de tudo menos do que é banal só não desisto do trivial mas do que quero mesmo desisto sempre porque não sei sou assim e não meti aqui uma única virgula porque não fiz uma única pausa porque é tudo torrencial e não penso se o que penso faz sentido ou se é apenas enfim mais banalidade oca. Ou então simplesmente não sei o que prefiro. É uma reflexão a que nos deveríamos prestar sempre. Que preferência é a sua, Baltazar, perdão, Tiago. Sim, lembro-me sempre do maneta e da mulher que via por dentro das almas. Gostava de ver as almas e a carne e os ossos e as moedas de baixo do chão. Não gostava de ser maneta. Mas se tivesse de dar uma mão pelo amor de uma Blimunda, talvez a desse. Era pensar bem no assunto. Quando ele morreu chorei, como agora, e chorei mais quando ela lhe chamou a alma, porque a ela pertencia. As almas pertencem todas a alguém. A minha pertence-me a mim, que nunca mais ninguém a reclamou, ou pelo menos nunca mais ninguém recorreu às vias judiciais próprias dos tribunais próprios para a reclamar. Um dia organizo-me, pacifico-me. Nem que seja no último de todos eles.



# Tiago Moreira Ramalho às 11:25 | | comentar | (1)

Sexta-feira, 1 de Abril de 2011

Lamento desmanchar os prazeres das gentes, mas não há cá isso de amores «liberais». O amor é um sentimento por definição possessivo. Não faz sentido amar sem exigir exclusividade. Não há amor em círculos, nem amor repartido. Só há amor. E se acaso um dia o amor nos falta e tentamos procurar artifícios desses, o melhor que temos a fazer é evitar o ridículo.



# Tiago Moreira Ramalho às 23:10 | | comentar

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Tiago Moreira Ramalho

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