Temos uma espécie de obsessão relativamente ao amor, creio, pelo facto de ele ser francamente bonito cantado, escrito, representado.
Nem o Grenouille, criador deste blogue, era capaz da solidão, apesar de não ter iguais com que se relacionar. Sete anos de fuga obsessiva, a comer enquanto defecava, para estar o menor tempo possível exposto aos perigos do simples cheiro a humanidade foram mais que suficientes para fugir de novo, mas desta feita da gruta inodora. Não tinha cheiro, mas queria ser cheirado. Bela metáfora.
Era essencialmente fraco, Grenouille. Como todos somos, em determinada medida. A força está na capacidade de nos relacionarmos displicentemente, sem entregas absolutas ou dependências doentias. A sociabilidade radical, braços abertos ao mundo, implica a vulnerabilidade. A vida feliz é a vida na qual experimentamos uma espécie de autarcia emocional. Nada sai, nada entra, a menos que queiramos.
Este blogue tem, a título experimental, liberdade de comentário. A título muito experimental.
Por vezes experimento um estranho sentimento. Saudades do desconhecido ou do imemorial. Não me diga, leitor, com ar desconfiado, que tal é impossível, que misturo as coisas, que o que sinto é necessidade ou curiosidade. Não é o caso. É saudade pura, tal como a sinto do que conheço, do que me lembro e não tenho. E trata-se frequentemente de uma saudade das originais. Daquelas que sabem que, lá no fundo, o objecto nunca mais voltará.
Sofro uma espécie de angústia. Há algo que quero tornar eterno, uma memória que quero que permaneça escrita numa pedra imune ao tempo. Mas falta-me a coragem. Tenho medos. Medo de cair na banalidade, nos lugares-comuns da escrita emotiva, nos pontos de exclamação, nas reticências, nos ais e nos porquês. Medo de reabrir uma ferida, que não é ferida, mas que arde às vezes. Essencialmente, tenho medo de mim. No fundo, sou, no mundo, quem mais me assusta. Provavelmente porque sou, no mundo, quem melhor conheço.
And the defendant is condemned to jail for putting me in the right trail.
Por vezes dizem-nos, gente cheia de certezas sobre tudo, mas que de vez em quando acerta, que há males que vêm por bem. Ou melhor, que há certas coisas que, num determinado tempo, encaramos como males, mas que se nos revelam verdadeiras bênçãos. É o caso. O ‘mal’ foi um bem tremendo, pois sem o ‘mal’, o ‘bem’ nunca teria vindo. E ainda há quem diga que o destino é um bandido.
É como se visse os meus olhos e neles me visse a mim.