Todos nós passamos por pequenas, ou não tanto, fazes da nossa vida em que simplesmente nos perdemos do que somos e do que queremos ser. Caminhos desviantes. Eu cá tenho-me deixado desviar pela estupidez que a emoção acarreta. Amar é uma estupidez que a emoção acarreta. Entretanto, estou cansado e só quero escapulir-me para longe, que o mundo, nestes dias, está irrespirável.
Os delírios e as divagações são as fugas perfeitas do concreto que nos demole os alicerces todos os dias. É por isto que de repente me vejo a escrever sobre a agenda que tenho agora à minha frente, com um «Agosto» em maiúsculas garrafais seguido de uma tabelinha com os dias, uma bolinha no dia tal, uma cruzinha no dia não-sei-quantos. Ao lado da agenda estão lenços de papel usados, devidos e, mais do que isso, derivados à doença que me domina, saberá o altíssimo o motivo; pilhas gastas, que a preguiça não leva ao pilhão; uma calculadora das antigas; um telemóvel dos modernos; um cartão da Fnac; algum lixo avulso. Ao pé do lixo avulso, estou eu, que por vezes me interrogo se estou ao pé ou se sou parte dele, como se a interrogação fosse mesmo necessária. Enfim, nós gostamos de pensar que somos mais do que somos. A humanidade é, na verdade, isso: um colossal wishful-thinking que dura há milénios. Sim, bestas, são muito bons, todos, superiores e assim, viva, coiso, racionais, daqueles que não têm da razão nem sombra. E agora que se foda tudo, sim? Até à próxima.
O texto pode ser como que um vómito. Um daqueles verdes, pestilentos, mas a sair pelos dedos. Umas vezes misturado com lágrimas, outras não. É disto feita a alma humana.