Hoje percorri uma calçada em completo silêncio. Via-me e parecia-me um personagem de fraca qualidade de um filme de pior qualidade ainda. Nenhum argumentista se lembraria de me meter, caso fosse um dos seus personagens, a percorrer aquela calçada e a percorrer aquele silêncio. Um argumentista habitual, daqueles que produzem a sua obra atendendo ao ‘racional’, ao que faz sentido, teria pegado em mim e ter-me-ia feito pegar nas coisas e ir para outra calçada qualquer. Os meus dias, na verdade, compõem uma obra de arte rara, uma obra exclusiva que me ofereço. Uma obra de que facilmente abdicaria.